18.12.17

Nesta vizinhança sou filha bastarda

Hieronymus Bosch - O jardim das delícias terrenas, 1504.
2017 foi um ano estranho. Tudo de pior aconteceu com coisas boas acontecendo por dentro. Ou pelas beiradas. Preciso começar dizendo que, muitas vezes em minha vida, principalmente quando se tratava do meu pai, minha mãe e minha irmã costumavam dizer que eu sempre agia diferente dependendo de com quem eu tratava. Pois bem. Nunca achei ruim, me defendi - ou criei uma desculpa para mim mesma - dizendo e pensando que para cada pessoa há um trato. Textos exotéricos - genéricos - dizem que quem tem libra no mapa astral costuma ser muito sociável e diplomático. Quem tem câncer, então, costuma saber manipular. São, respectivamente, minha lua e meu sol. Eu culpo os signos mesmo, para não ter que culpar a mim mesma por não conseguir mudar ou ser como se deve.

2017 começou ruim, porque começou com pendências de 2016. Há pessoas na internet se achando muito sábias ao dizerem aquela tal "novidade" que esperar que o ano acabe é um pensamento idiota e que a vida não muda. Olha, muda sim. Só pelo simples fato de termos calendários milenares, fases da lua, posição dos astros, rotação e translação da terra e mudança de estações. As pendências podem virar a página do calendário conosco, mas é um novo ciclo sim, nosso corpo percebe isso, e sua chuva de likes não muda este fato.

Posto isso, 2017 foi um ano de término de relações, quebra de laços. Começou por minha culpa e terminou por meu senso de justiça. Este meio não é simples de explicar, mas não posso fingir que não aconteceu. No mesmo ano, reconectei-me com pessoas do passado e me empolguei bastante, conheci pessoas novas - ontem mesmo! - e queridas, me senti esquecida, e esqueci também.

Em 2017 apaguei de vez meu twitter. Cansei das pessoas de lá. Cansei mais das bolhas esquerdistas cirandeiras good vibes gratidão sororidade do que dos piores trolls da história da humanidade recente, reavivadores de pragas preconceituosas horrorosas. É como se eu estivesse, nos últimos cinco anos, indo do centro do espectro político, caminhando paulatinamente para a extrema esquerda e pulando no penhasco do plano cartesiano, para o sul de lugar nenhum. Sempre tive problemas com gente, independente ou até mesmo por causa de sua posição política e da quantidade de sua externalização de simpatia, antes mesmo de saber ler. Continuo seguindo comunista, mesmo que comunistas possam vir atestar que não o sou: neste aspecto, só confio em Marx e nada mais.

Dizer especificamente o que estou tentando explicar pode ser um problema: nunca cometo pequenos erros enquanto eu posso causar terremotos. Inclusive, um dos motivos de eu pegar ranço de twitter é justamente a péssima interpretação que as pessoas têm, não importa se elas votam em Bolsonaro ou curtem vídeos do Gregório Duvivier. Se elas são estudantes que querem prestar Fuvest para a famigerada FFLCH ou se são engenheiros civis com pós-doc. Então deixa pra depois.

Apesar da humanidade, me descobri frágil. O robô, o encoleirado que eu adorava apontar, do Dahmer, também era (sou) eu. Fugi tanto de rotinas, padrões, coisas estabelecidas, que quando dei por mim estou vivendo assim mesmo. Inclusive é um spoiler da vida que vou dar aqui: fazer aquilo que se gosta não significa ter sucesso acima daqueles que fazem as coisas por obrigação e sobrevivência. No final das contas vamos todos morrer mesmo, e os sonhos realizados também entediam. Isso está escrito em músicas, livros e séries. E mesmo nos contos de fadas! O fim é o felizes para sempre, imagina ser feliz para todo o sempre, sem poder modificar um instante sequer, sem poder variar um sentimento sequer? Quantas vezes nos perguntamos o que há depois do final feliz? Eu estaria numa pior se a vida fosse resolvida. Que mais absoluto tédio.

André Dahmer - Malvados
Meu sonho, na faculdade, era "subir" todos os degraus da academia. Isso há quatro anos atrás. Fui em simpósios, escrevi artigo, mas sempre incomodada. Porque as pessoas vivem em grupos. E detesto estar em grupos. As pessoas conseguem mestrados como se fossem bromélias e seus orientadores plantas que aceitam bromélias como parasitas. Tudo é por indicação. Você, se não é daquele grupo e não concorda com ele, é porque é do grupo contrário. Que preguiça disso. Que preguiça do modo como palestrantes discursam sobre "o lusco-fusco da revolução russa" na FESPSP às 21h da noite, com aquela voz arrastada, lendo um texto próprio - bem mal escrito - e se achando o máximo da genialidade. Que preguiça de ir comer na lanchonete de uma faculdade da qual não pertenço - nem conseguiria - e sentir um peso em meu cangote como se todos estivessem me olhando como acontece naquelas cenas sufocantes do Roman Polanski e do Orson Welles.
Roman Polanski - Repulsion, 1965
Falando em Polanski, aprecio a vivacidade com que vocês discutem sobre obra versus postura do artista. É uma boa pauta, de verdade. Mas é uma "bandeira" para a vida inteira. Dou boa sorte a vocês nessas questões, me privarei delas. Assim como me privei dos jornais. Dos comentários de portais. Da timeline que bloqueei no facebook. Das assinaturas que cancelei.

Houve momentos na vida que tinha certo receio de afirmar minhas coisas. Porque as pessoas cobram. Tanto cirandeiros como impeachmistas possuem a necessidade de querer censurar algo. Geralmente quando querem censurar algo aí é que esse algo se torna famoso, então cuidado. Sempre procuro conhecer e discutir as coisas, e não proibir nada de ninguém. Mesmo que às vezes me aflore um autoritarismo, um exagero.

Hoje tenho preguiça de afirmar minhas coisas só por afirmar. Se afirmo, é porque simplesmente quero dizer como me foi importante a experiência e que sim, vale a pena. Geralmente é clássico, me dou bem com clássicos como vocês se dão bem com o contemporâneo, e assim segue a diversidade.

Hoje tenho preguiça de algo que eu adorava: artigos. Jornalistas são bons em escrever artigos. Eu estava feliz querendo escrever artigos. Mas aconteceram dois artigos esse ano, um deles emocionante, e eu descobri que nem isso quero mais. O tcc vai virar capítulo de revista digital e eu só queria cancelar isso. Percebi que sigo uma área de atuação até bem definida, e isso foi sem querer, mas as coisas são tão iguais sempre que meu deus do céu. Mas tem lugares e temas tão mais burocráticos que até sou uma privilegiada na posição em que estou. Tenho o luxo de reclamar do que conquistei, mas eu confesso que estou decepcionada.

Meu grande problema com aquela frase de Graciliano, com as músicas que ouço, os filmes que vejo e os livros que leio, é que as coisas que sinto não são deste mundo. Pode parecer, e até talvez seja, discurso de adolescente, mas o que me rodeia parece tão apático, igual, padrão, que não cabe toda a minha expectativa - que não sei não ter, mesmo sabendo que a decepção é culpa minha mesmo.

Não sei como terminar esse texto. Só sei que esse ano descobri novos sons, novos vídeos, novos textos, novas pessoas. Também conheci o que é sentir demais e o sentir de menos. Só sei que esse ano parece que vai durar até o fim da minha vida, mesmo que eu escreva outras datas em meus papéis. As pessoas dizem "pode aparecer coisa melhor" e eu penso "como, melhor? melhor para quem?"; "você vai conhecer mais pessoas e lugares" e eu penso "que gasto de energia é conhecer gente, é sempre a mesma coisa: oi, tudo bem, tudo e você, que bom, legal", e a partir de certo momento a gente se acostuma e aí começa tudo outra vez.

Até parece um texto triste e etc., mas essas coisas passam pela minha cabeça desde pelo menos 1995, então eu não estou na pior. Só não gosto de fugir de tristezas e pensamentos perturbadores que levam à reflexão. Detesto conselhos que não servem para nada como "fica bem", "não fica triste", "não chora". É como você aconselhar a um gripado a não ter febre. E não me sinto bem estando bem demais e não conversando comigo, porque parece vazio e... plástico. Tem dias que merecem reflexão. Feliz ou infelizmente minha retrospectiva de 2017 é mais ou menos essa. De alguma forma mudei, me sinto diferente. Tem gente que nem percebe. O grande problema é que tenho horror a rotinas, ciclos, padrões, várias pessoas seguindo um mesmo caminho. Sei que estou dentro disso e não tem como não estar. Lido com isso externamente numa boa enquanto a cabeça pensa nisso e muito mais.

A parte boa nisso tudo é sempre que alguém, lá num passado não muito ou tão tão distante, já falou sobre isso. Ou pintou, fotografou, filmou, cantou. Fez parecer bonito, ou horrível. Porque de alguma forma é. É uma metamorfose, não é mesmo? Mudança de pele, como as cobras fazem. E que bichos bonitos são as cobras. Então me sinto amiga de quem viveu há mais de 200 anos e, apaixonado por uma mulher casada, escreveu Werther, de quem viveu até quando eu tinha dois anos e soube exatamente explicar coisas que eu mesma sinto e vejo, mesmo que a galerinha cool ache que ele é um "babaca do caralho".

Certa vez comentei sobre profissões com a chefia, e esta concordou: há pessoas que nascem para solucionar problemas, nós nascemos para criá-los. Serve para a minha vida toda. Sou aquela que não fala mal das fórmulas matemáticas (inclusive detesto quem fala, e quando fala), nem está tanto assim a fim de saborear o resultado. Sou a que se diverte montando o problema, quebrando a cabeça, vivendo o caminho. Sou, imodestamente, uma moleca maravilhosa.
Eu sou o moleque maravilhoso
Num certo sentido o mais perigoso
Moleque da rua, moleque do mundo, moleque do espaço 
Raul Seixas - Moleque Maravilhoso, 1974.

26.11.17

Quando eu era pequena

Ricardo Siri Liniers
Numa das diversas pausas da estruturação do tcc, encontrei essa coisa linda que Liniers postou hoje. Lembrei de mim.

Quando eu era pequena, corria da minha sombra, porque achava um desaforo ela passar na minha frente, e eu que devia chegar primeiro nos lugares. Nesses momentos a Helen de três, quatro anos, vivia com os olhos grudados no asfalto, preto, brilhoso, iluminado pela lua.

King Crimson - Larks' tongues in aspic, 1973
Também competia com a Lua. Eu andava, ela andava. Eu parava, ela parava. Por que me perseguia, pelo amor de Deus? Quem tinha que seguir em frente era eu. Papai dizia que Mãe Neguinha, minha bisavó - se não me engano, ou era conversa dele -, dizia que Sol e Lua eram um casal apaixonado. Mas brigaram, é por isso que há dia e noite, e desde então caminha a humanidade. Com um reatar desse relacionamento, ou seja, com Sol e Lua no nosso céu ao mesmo tempo, dinossauros voltariam a habitar o planeta. Acho que mamãe me explicava que não era a Lua que andava para me seguir, e sim a Terra girando, dia e noite, e eu dentro dela.

Eu dentro de mim. Quando era pequena, mais nova ainda, achava que era uma índia, com os cabelos nos ombros caídos, negros como a noite que não tem luar.  Passava em frente a qualquer espelho e via que não, então saía correndo, indignada. Eu queria ser índia, por algum motivo.

Por algum motivo, a despeito dessa revelação, eu adorava brincar com espelhos. Aquele espelho de moldura plástica laranja, eu sentava no chão de casa, lá em Paraisópolis, cimento queimado. Posicionava o espelho de todas as formas e via o mundo lá de dentro, com umas perspectivas que hoje tenho o enxerimento de dizer que eram até construtivistas. O mundo avesso, tão maior, tão cheio de novidades. Eu queria entrar lá dentro e viver ao contrário. A porta da direita que era na esquerda, esse tipo de coisa.

Dario Argento - Profondo Rosso, 1975. (David Hemmings)
Tinha também os sonhos. Falei aqui da última vez como sou uma (in)cansável sonhadora. Os sonhos de minha vida foram na infância. Teve um que eu realmente guardo no peito, se alguém tratar de simbologias por favor me contate. Estava de carro com papai e mamãe, minha irmã ainda não existia. Um calor dos infernos, a estrada para lugar nenhum. A paisagem era areia. Não dunas, mas aquela terra infértil de chão batido, de abandono. Papai parava o carro no meio da estrada onde existíamos apenas nós três. Parava posicionado em frente a um edifício, mas numa simetria digna de filmes do Kubrick. Este edifício era absolutamente retangular em todas as suas formas, preciso e interminado. Ninguém na obra. Blocos de cimento, tudo cinza e poeirento como cimento que nunca viu água. Novamente a minha visão construtivista do todo (provavelmente porque eu era criança e tudo era gigante e infinito de minha perspectiva), e nós três encostados no carro olhando, como Ferris, a namorada Sloane e o melhor amigo Cameron (ou seja, eu mesma) observando um a obra de arte em um - cóf cóf - museu.

Eu pensando no meu sonho até hoje, já são 20 anos.
"The closer he looks at the child, the less he sees, of course, with this style of painting. But the more he looks at it, there’s nothing there. He fears that the more you look at him (Cameron), the less you see. There isn’t anything there. That’s him."
Tive outros sonhos com edifícios. No passado era às vezes, hoje em dia é todo dia. Impressionante mesmo, acho que vivo uma vida número dois quando fecho os olhos. Edifícios hoje são meu tema de tcc, com a limitação de me ater a bibliotecas públicas. Porque edifícios sempre me impactam, desde as igrejas, que só me interessam se são "muito arquitetônicas", como o meu favorito Mosteiro de São Bento, até aquela exposição sobre o construtivismo russo com fotografias de Aleksandr Rodchenko na Pinacoteca do Estado de São Paulo (comigo não é "Pina_" nunca não, falou) em 2011 que jamais esqueci. Porque construtivismo russo basicamente traduz meus sonhos.

Assim como o filme que Orson Welles (que homem) fez em adaptação de O Processo, de Franz Kafka (que homem, que livro, também me lembro o exato momento em que encontrei numa prateleira lá no fundo do Sebo do Messias), com edifícios surpreendentemente grandes em vista da pequenez de Josef K., aquele magrelo ombrudo lindo denominado Anthony Perkins; filme esse que ilustrará meu artigo em sua revista digital.

Orson Welles - The trial, 1962. (Anthony Perkins)
Porque é aquele negócio, como diz Alceu - sempre ele, em tantos momentos simbólicos de minha vida -,
Sinto o frio entrando pelos ossos
Como uma coisa um troço
Não sei explicar

Contudo, estou sabendo explicar de alguma forma, porque existe uma coisa chamada marxismo e outra materialismo histórico, e uma pessoa chamada Pierre Bourdieu, outra chamada Raquel Rolnik e outra Gregori Warchavchik, que por acaso nasceu em Odessa, cidade Ucraniana que tem essa maravilhosa escadaria de Potemkin, a mesma de Eisenstein, com a maior fotografia de todos os tempos:
Aleksandr Rodchenko - The Stairs/Steps, 1929/30.
Quando eu era pequena, era século XX. O meu século, o século que dá aquele esquisito no peito, o fim do segundo milênio. Tudo isso é sobre aquilo. Sempre estou lá. Todas essas coisas são, talvez, o mundo de meu espelho. E eu dei uma paradinha no artigo, que devo terminar até amanhã, para escrever descompromissadamente para ver se agora vai. Pretendo voltar aqui com o trabalho entregue, com o link para leitura, com sossego e com férias.

Me desesperei de modo abissal em 2017, por motivos infinitos: do cuore, de família, de trabalho, de escola técnica, de mim mesma. Me desesperei para escrever, me desesperei escrevendo, me desesperarei com o tempo e com a entrega. Mas é assim que me sinto viva, se não tivesse esse tum-tum-tum-bate-bate meu coração, que zabumba bumba esquisito, batendo dentro do peito, eu nada seria.

19.11.17

4. Senhor cidadão

giphy
2017 foi um ano imprevisível para meu coração, inacreditável para a minha mente. Nunca pensei que fosse acontecer o que aconteceu, que sentiria tanto assim, e que existam tantos "cômodos" em minha cabeça. O cérebro é um universo, e o coração um oceano tormentoso.

Por sorte, tive forças que me surpreendem toda vez que paro para pensar no assunto, e companhia de amizades antigas e novas, coisa que também não previ para este ano. Foi tudo tão intenso que dias pareceram durar semanas, mesmo que as semanas, em certos momentos, tenham voado como se fossem dias. Senti coisas por cinco anos, e só se passaram cinco meses.

Falta mais de um mês para a chegada de 2018, e não sou tão favorável assim a retrospectivas, mas não tem como não parar cinco minutos do dia e pensar caralho, como foi que isso aconteceu? Foram meses tempestuosos, com um prelúdio já no primeiro mês, clímax ali no meio, no inverno, e um desanuviar por agora, porém ainda em meio a tempestade.

Tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais. É algo que não dá para fazer muito esforço para prevenir: cada um com seu cada qual e vou respeitando decisões alheias, porque a idade vem chegando e com ela a necessidade de fazer escolhas, determinar prioridades. Minha prioridade é viver minha vida como acredito que seja correto, porque ela é uma só, independente do que filosofias e religiões afirmem. Não é possível parar de viver a vida que a gente tem para viver a de outrem (salvo situações específicas e extremas, ou seja, estou falando só do meu caso mesmo).

Então estou aqui estudando, frustrada com um tcc que sairá em dez dias, praguejando contra o mundo, mas principalmente comigo mesma por ser tão desorganizada e procrastinadora. No trabalho cada dia é uma odisseia; me desespero, mas sou apaixonada por emoção, dramas, aventura, coisas novas (sim, museu tem tudo isso: "quem vive de passado" tem muito o que fazer, muito em que pensar e até muita diversão - sim, estou falando com você, você mesmo que utiliza a frase quem vive de passado é museu, você vai morrer antes do natal).  Na vida pessoal, um a mistura de notas do subsolo, músicas tristes, poesia, dengo, ummagumma e até um pouquinho do que se pode dizer de relevante sobre Bukowski. Mas é aquela coisa: viver cansa.

E que bom que cansa. Quando não faço nada, eu durmo mal. Preciso gastar as energias de dia para ter motivos para dormir à noite. É a mesma coisa na vida: ela precisa acontecer. E acontecer em diversos caminhos, concomitantemente. Porque se alguma coisa vai mal, outra coisa deve ir bem, para equilibrar. Para distrair, para dar esperanças, porque senão tudo vira frustração e desespero. Mesmo para mim, que estou desesperada todos os dias, até dormindo.

Parênteses: essa tarde mesmo, não estava fazendo nada e dormi mal; sonhei sobre um autor que falava da miséria humana no sentido filosófico, com um aluno meu falando sobre racismo e com um mendigo aparecendo em determinado espaço. Acho que o sonho nada tem a ver com o texto, mas achei um sonho pesado demais para um cochilo de sábado à tarde. Eu só queria descansar, sabe, e dormir muitas vezes me cansa. Dormir significa que vou mais uma vez entrar num trem, ônibus, metrô, avião ou carro. Que vou andar por plataformas e estações. Que vou trabalhar. Então tenho hora extra dormindo, não sei o que é sonhar com o nada mais. Meus sonhos são urbanos, conturbados, atarefados, arquitetônicos. Fecha parênteses.

Esses tantos acontecimentos amorteceram desgostos e pude seguir minha vida com certa paz. Fui racional e fria quando e com quem pensei que nunca seria, me senti uma mulher arretada demais. Fui emocional e calorosa quando e com quem nem pensei que daria mais tempo de ser, e me senti uma mulher indefesa demais. Foi um Deus-nos-acuda, fui Inaurafui Compadecida. Fui também indiferente. Mas sempre comovendo-me por excesso, por natureza e por ofício. Porque acho medonho alguém viver sem paixões.

Então hoje completo o quarto dia do desafio de 30 dias de música. Esse ano está tão confuso que nem tenho achado ruim lembrar de alguém com músicas que amo. E eu amo tanto esse artista (também a pessoa, mas isso é irrelevante), que nem lembrando de quem preferiu me esquecer, essa música fica ruim. Pelo contrário: ela é ainda mais forte e poderosa, e só se auto afirma, dado os acontecimentos recentes.


Se o caso é chorar, me recuso. Prefiro me defender com esse julgamento/questionamento maravilhoso, tropicalista, justo, que diz muito sobre todo aquele cidadão opressor: o político, o da elite, burguês e pequeno burguês, o chefe, seja o de fábrica, de empresa ou de família; coronéis saruê, o porco, o cão, a ovelha orwellianos. E, por falar em ovelha, continuo sendo, com muito orgulho (e às vezes com dor) a ovelha negra da família.

4. a song that reminds you of someone you would rather forget about (uma música que te lembra de alguém que você prefere esquecer)



Senhor cidadão
Me diga, por quê
Você anda tão triste?
Não pode ter nenhum amigo
Na briga eterna do teu mundo
Tem que ferir ou ser ferido
O cidadão, que vida amarga

* Confira minha lista do 30 day music challenge

6.11.17

3. La belle de jour

Luis Buñuel - Belle de jour, 1967.
A gente possui certezas que, conforme o tempo passa, se tornam incertas. Acreditei por semanas que postaria Going to California, do Led Zeppelin, porque me lembra um dia específico em que fui à praia. Contudo, a companhia hoje me traz lembranças desconfortáveis porque houve (mais de) um grave rompimento familiar.
I think I might be sinking
Throw me a line if I reach it in time
I'll meet you up there where the path
Runs straight and high
Então hoje estou recordando, remoendo, com remorso de certas coisas do passado (que nada têm a ver com questões familiares porque, afinal, parente é serpente), e consegui ficar pior ainda ouvindo Alceu. O Alceu, que é a alegria de todos os artistas vivos que adoro e que são do nordeste. Não que seja uma surpresa, Anunciação sempre me deixou cair num poço incrível de existencialismo desde minhas épocas de catequese, quando entoava com a criançada (que eu detestava) essa música (que eu amo).

Não é Anunciação que me lembra do verão. Já já eu digo qual é, porque tem outras coisas a serem ditas na frente.

Esta cidade teve seus bons momentos (até as últimas eleições), que não aproveitei tão bem assim, porque quando o presente acontece a gente tem muita folga e deixa tudo pra depois; como diria Sua Mãe, eu estava entorpecido com outras paixões e ainda era imaturo para me jogar. Mas se teve algo que aproveitei 99% foi o Alceu.

Teve Alceu no Sesc Itaquera. Bem na hora de eu sair de casa lembro que choveu bastante, era domingo e eu disse Berenice, segura, nós vamos bater., e me lembro de chegar ao final de Cavalo de Pau. Foi maravilhoso dançar na lama num final de tarde, dançar até o pagode russo, porque na dança do cossaco não fica cossaco fora. Isso foi março. O ano correu de uma maneira que parecia bom, mas tava ruim, e parece que piorou. 2015 foi complicado, não é mesmo?
Teu coração tá batendo
Como quem diz:
"Não tem jeito!"
O coração dos aflitos
Pipoca dentro do peito
Então teve o Bloco Maluco Beleza no Parque Ibirapuera em janeiro. Um calor de rachar. Fafá de Belém cantando Vermelho até em versão Maracatu (spoiler: todas as versões são iguais, você só está bêbado) no trio de Alceu, fingindo que não havia votado em Aécio. Muito calor, muita gente pulando e bebendo e eu sóbria pois garrafa de vidro infelizmente não pode e eu sou enjoada e odeio cerveja. Odeio multidão, mas amo Alceu, fiquei pistola mas foi maravilhoso. Pena que. Tem coisas que a gente parece que saiu de um livro do Dostoievski e fica imaginando desculpas pessimistas para não agir. Momentos. Remorsos. Ai, Jesus.
Conclusão final, senhores: é melhor não fazer nada! É melhor a inércia consciente! Pois, então, viva o subsolo! Apesar de eu ter dito que invejo o homem normal até a minha última gota de fel, nas condições em que o vejo, não quero ser ele. (Embora não pare de invejá-lo; não, não, o subsolo, em todo caso, é mais vantajoso!) Ao menos, lá é possível... Ah! Estou mentindo agora também!
Daí teve Alceu no meu bairro mesmo. No meu bairro não tem nada, é tão periferia que luz elétrica da AES lá em casa só foi existir em 2015; que não há museu, centro cultural, biblioteca pública ou registro histórico para os ocupantes saberem quem são, de onde vêm e nem podem pensar para onde vão. Mas tem escolas públicas e um CEU. Pois foi nesse CEU que consegui levar mamãe pra ver Alceu. Dessa vez não foi nem grande show, nem trio elétrico; foi mais ou menos um acústico, com o mesmo script, mas parecia até novidade. Foi lindo e íntimo demais. Era frio, era junho de 2016. Um ano também complicado, obtuso. Triste.

Enfim, dos meus três momentos ouvindo os repentes de Alceu e as piadas sobre a música da muriçoca, em todos eles, não importando a estação do ano e as condições climáticas, eu lembro da moça bonita da praia de Boa Viagem. Essa música me dá uma coisa. Acho que o azul em que a Belle de Jour viajava é o azul em que me perdi e tenho me afundado. Para quem fala inglês, parece que o azul é um estado de espírito. Aqui temos a segunda-feira cinzenta, lá eles têm blue mondays. Hoje é segunda né. Tô triste. A frieza do azul me gela quando ouço essa música, inspirada num filme de Buñuel. Mas, ao mesmo tempo, o azul é a cor mais quente (não é só o filme não, é a física que diz) e queima meu peito e fica esse sentimento estranho e profundo dentro de mim.

Portanto, não podia ser outra senão essa, ainda mais nas atuais circunstâncias. E tomara, meu Deus, tomara! que em Pernambuco eu termine meu 2017.

3. a song that reminds you of summertime (uma música que te lembra o verão)


La Belle de Jour
Era a moça mais linda
De toda a cidade
E foi justamente pra ela
Que eu escrevi o meu primeiro blues

* Confira minha lista do 30 day music challenge

14.10.17

28. C'est la vie

Krzysztof Kieślowski - La double vie de Veronique, 1991.
Tenho costume de usar termos estrangeiros em algumas conversas. Não que eu seja fluente na língua - por exemplo, não sei latim, mas já soltei um ipsis litteris no meio de um seminário, de nervoso -, ou seja empreendedora™ que solta um startup, follow up, feedback, new car, caviar, four star daydream, think I'll buy me a football team, I'm all right, Jack, keep your hands off of my stack. Não, longe de mim. Mas às vezes a gente solta um je ne sais quoi, um c'est la vie... Porque, bem... c'est la vie...

Então usei o último termo do parágrafo anterior em uma conversa e me lembrei de Emerson Lake & Palmer, uma de minhas bandas favoritas de rock progressivo, que me lembra as trilhas sonoras de Peanuts [1] e Tom & Jerry [2] (lembrando que meus episódios favoritos são os polêmicos ilustrados por Gene Deitch), e de Inferno, do Dario Argento. O Keith Emerson é (foi) um tão excelente musicista, e com um som tão específico, que até a leiga aqui em teoria musical sabe muito bem distinguir quando o piano está sendo tocado por ele.

Enfim, esses dois parágrafos confusos só existem para introduzir a música Money, do Pink Floyd, e o que vem a seguir. Estou tentando montar meu 30 day music challenge, e hoje respondo o dia:

28. a song by an artist with a voice that you love (uma música por um artista com uma voz que você ama)

Greg Lake. Poderia ser Ian Gillan, mas... Greg Lake. Ele é o L de ELP, o Lake de Emerson Lake & Palmer. E o segundo dos que se foram (só Carl Palmer, o baterista, está vivo).

Obviamente a música não poderia ser outra:

Like the sea
There's a love to deep to show
Took a storm before my love
Flowed for you
C'est la vie
E, para comprovar o que estou dizendo, caso a estrofe acima não tenha tocado o seu cuoração, tem também essa abaixo. Porque Greg foi o primeiro vocalista (e baixista, isso é muito importante) da banda King Crimson, mais conhecida por ter um cangaceiro na capa (mentira, é um Coringa, mas não custa nada sonhar) de um de seus discos e/ou por ter zero discos disponibilizados no youtube porque o Robert Fripp não colabora. Então, como o Fripp não colabora, admiráveis fãs isolaram a voz de Greg na música Epitaph, do primeiro disco, In the court of the crimson king, de 1969, que é, inclusive, um dos meus dez discos favoritos de toda a vida, e um dos classicões do famigerado prog.

Knowledge is a deadly friend
If no one sets the rules
The fate of all mankind I see
Is in the hands of fools
[Edit] 25 jul. 2019 - para explicar o que sinto por essa música - C'est la vie -, soltei um "eu ouço essa música e me sinto um maestro, preciso mexer os braços como se as artérias fossem fugir do peito por eles". 

* Já postei o dia 01 do desafio.
[1]. A Charlie Brown christmas, de 1965, tem música composta pelo pianista de jazz Vincent Guaraldi.
[2]. Saturday evening puss, de 1950, é um episódio dirigido e escrito por Hanna-Barbera, e a música composta pelo pianista Scott Bradley.

1.10.17

Bright and dark sides

Gustave Caillebotte - Rue de Paris, temps de pluie, 1877
Me baseei nesse texto da Gabriela para criar uma lista de coisas gostosas que animam meus dias. Porque há dias tão intensamente tempestuosos que simplesmente nublam qualquer possibilidade de boa atividade, me fazendo não enxergar alternativas e fazendo chover em minha cabeça. Não vou elencar tudo, infelizmente. Mas, para me lembrar melhor dos momentos, é bom pensar em rotina, em horários. Eis aqui meu lado brilhante da vida:


Gosto de me espreguiçar pelas manhãs, antes de levantar da cama. Parece que antes disso sou uma pilha de ossos desmontados. (Vocês - pelo amor de Deus - já assistiram Funny Bones?)


Sou apaixonada por rostos que acabaram de acordar, inclusive o meu. Uma pessoa que acabou de acordar, com o cabelo assanhado, a cara de "onde estou, quem sou eu, o que está acontecendo?", as olheiras vermelhas (eu adoro olheiras, sabe; e ainda bem, porque nasci com elas), a voz rouca, a preguiça, a desorientação e, no meu caso, o silêncio. Não interessa se estou de bom ou mau humor, eu de manhã falo muito, muito pouco, quase nada.

Cafuné!

Café!

Ir para lugares ouvindo música e prestando atenção na paisagem. Quando é um caminho que gosto muito e a distância se mede temporalmente em mais de uma hora, com certeza estarei ouvindo o disco Live at Pompeii, do Pink Floyd. Também adoro ligar o som e dar um cochilo, dependendo do horário, e se estou sentada no ônibus.

Dar bom dia a desconhecidos. Sorrir para eles, sabendo que essa é a única vez na vida que nos encontramos, provavelmente, e cordialmente trocamos coisas boas num gesto simples, rápido e indolor. Quando acontece de nos revermos, de nos reconhecermos, é melhor ainda. É uma amizade sem nome e sem compromisso nenhum.

Andar e observar - de novo - a paisagem. A arquitetura das casas, o modo de viver dos bairros, sentir o vento e ouvir os passos. Dar oi pro gato naquela garagem, sentir medo do gnomo daquele jardim, fotografar aquela flor e querer saber a cor da tinta daquela parede. Tenho o costume, desde sempre, de observar casas e apartamentos, fragmentos internos, e imaginar toda uma vida. O que o marido está assistindo, o que a mulher está fazendo, os gostos dos filhos, os empregos, preocupações e motivações de vida de cada um (como pessimista e intolerante a padrões que lê Buk e Dosto e ouve Raulzito, eu acho essa rotina toda um saco - mas esse jogo de adivinhação é uma delícia).

Bares. Não botecos-boutiques da Vila Madalena (Vila Madá para os paulistânos, mêo), mas os bares verdadeiros, com caixas de cerveja empilhadas, prateleiras tortas e garrafas diversas com conteúdos também diversos e às vezes sem rótulo, um balcão, o dono e um freguês, uma televisão com futebol, noticiário ou uma conversa. Um comentário. E, neste momento, meus amigos, que se exploda o politicamente correto. A simplicidade, crueza e ebriedade de um bar para mim é a mais pura poesia e humanidade. Mesmo que... não, não interessa o assunto e a opinião.

Atravessei a rua, entrei numa bodega.
- Faz o obséquio de me dar um pouco de aguardente?
O homem da venda trouxe a garrafa, pôs-se a despejá-la num copo sujo.
Como eu não o interrompesse, derramou a bebida com sovinice.
- Quer que encha?
- Vá botando.
- Ah! bom. É o que se leva deste mundo, opinou entregando-me o copo cheio.
Sentei-me e comecei a beber, olhando a casa fronteira, o pensamento espalhado.


Aquele momento que fico tão completamente empolgada que gaguejo, balanço os braços, digo as coisas todas na ordem errada e quem me ouve dá risadinhas. O mesmo quando eu sou a ouvinte. Tipo cena de insight de filme de mistérios e aventura, onde dois personagens perambulam pela sala com cara de interrogação, simultaneamente lhes aparece a exclamação e, por algum motivo, possuem uma fala sincronizada de eureka tão ou menos inexplicável que um musical com toda a cidade desconhecida entre si dançando e cantando do mesmo jeito. Amo (só não amo musicais). (p.s.: os vídeos a seguir possuem spoilers)


Minha linha de pensamento é idêntica a do Todd e kkkkk adoro esses filmes bestas do Nick Cage

Café novamente! Mas não o simples ato de bebê-lo. É esperar um dia inteiro pelo café da tarde e ter o prazer de ouvir a água quente jorrando por cima do pó, fazendo subir um aroma indescritível de paz. Café com mamãe e biscoitos da casa do norte, café sozinha com anotações em minha caderneta e suspiros apaixonados ou preocupados, café na pausa do trabalho com causos e uma boa prosa, café para aguentar as próximas oito horas, para me inspirar, me motivar, lembrar que a vida não é só problemas. Café.

fonte. russa, é claro
Cheirar gatinhos. ... Literalmente: pegar as gatas aqui de casa e dar um chêro e fazer carinho até ronronarem e ficarem doidas se esfregando, abraçando, lambendo, arranhando, dando chutes e correndo para se esconder e pular na minha perna, brincando. Carinho gatos a qualquer hora e em qualquer lugar. Queria ter essa habilidade de brincar com cachorros, tadinhos. Tenho duas e não dou a atenção merecida (... voltemos à parte boa).

Comer salada de frutas. Mas pelo amor de Deus, sem leite condensado, isso é criminoso. Salada de frutas é com frutas e o único líquido deve vir da maior fruta de todas, que é o suco de laranja. E só. Amo muitas comidas mas essa é aquela que a gente ama tanto que esquece de mastigar direito e quase se engasga e quer enfiar na cara (talvez eu seja uma comedora aflita, não façam isso em casa).

Dormir ao som da chuva, ventania, sapos, grilos, ou cães latindo ao longe. Dormir de cansaço e nem sonhar (eu sonho muito, não aguento mais).

E a mais novíssima melhor sensação de todas do momento: ir dormir com essa trilha sonora, in a specific way. Is such a heavenly way to sleep.

11.9.17

Ainda tenho em mim todo o sentimento do mundo

Henri de Toulouse-Lautrec - The Hangover (Suzanne Valadon), 1888.
Achei que não gostava de poesia. Achei que odiava poesia. Mas conheci Neruda. Conheci Pessoa. Até aí tudo bem. Contudo, conheci Leminski e pensei: "nossa, que cara chato".

Então tem o Graciliano. Nordestino como meus pais, tios e avós. E o alagoano que se filiou ao PCB há 72 anos disse em suas Memórias do cárcere:
Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões.
Essa frase desse não-poeta está tatuada em minha alma. Porque sou e estou apaixonada, todos os dias, no bom e no mau sentido da palavra. No sentido de Camões.

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


E parece-me que a poesia só surte efeito quando você está dentro dela, vivendo-a, com o peito rasgado, ferido, e a cabeça quente, fervendo, derretendo, escurecendo as vistas.

Então hoje (23 de agosto) o almoço na fundação para a qual trabalho foi temático. As crianças assistidas pela fundação, e em parte pelo museu da fundação (sou mais ou menos professora, quando nunca, depois de grande, quis ser, e ainda bem que bebi dessa água que não beberia), fizeram trabalhos comoventes sobre a região Sul do país. A comida também fazia questão de lembrar o cotidiano sulista, talvez com estereótipos, mas pulemos a parte da comida do corpo direto para a comida da alma:

Estava lá, aquele que eu não aguentava mais ver estampado em páginas hipsters do facebook com seus versos burgueses paulistas mal feitos (da página, no caso, e não o artista em si), o tal do Paulo. Não só ele, mas a adaptação de sua obra em obras dos meus pequenos - que na verdade são mais altos que eu, no auge dos seus 13 anos. Além disso, seus versos, suas visões de mundo em poucas palavras, que eu, com tantas palavras ainda consigo conservar o meu silêncio e ser um mistério para mim mesma.

Releituras dos jovens

Reclamei aqui algumas vezes sobre minha dificuldade cada vez maior de expor sentimentos, que acontecia na mesma proporção em que me era cada vez mais fácil expor ideias. Um amigo disse que é porque na adolescência a gente só sabe dizer o que sente, porque só sente e pouco faz, profissionalmente falando. Na maturidade ocorre o contrário: nos dedicamos ao profissional e o sentimental vai enrijecendo, como uma máquina velha, deixada no canto para oxidar e criar teias.

Como sou uma pessoa carregada de memórias e nostalgia, e o afeto que sinto germina por essas vias, consegui reviver pedaços gostosos e dolorosos em mim neste último mês. Por ter estado apática nos últimos anos, essa re-vida foi algo apocalíptico como o Eclipse do Lado Escuro da Lua. Agora parece que abri o peito novamente, depois de um tempo mergulhado na racionalidade e nos sentimentos de rancor, culpa e pena. Por falta de costume, estou sem jeito, dolorida, cansada, desesperada, e cinco minutos depois estou serelepe, sorrindo, gargalhando - de euforia e desespero -, choramingando (porque não consigo mais - ainda - chorar direito {parece que consigo sim, de soluçar, aconteceu}), pensando, suspirando, falando sozinha.

Tanto pedi e busquei ter o coração batendo forte por tudo que faço e que me é caro, para me sentir viva, que me veio retumbar no peito algo além de minha capacidade física, algo que não cabe em 1,57 de altura, nem mesmo numa mente que se ocupa dezessete horas por dia.
Mesmo que me aperte essa sensação sem nome
Ou que me faça engolir a seco a minha sede é de...

28.4.17

Verão de sessenta e oito

a paz que me dá. fonte
Tinha acabado de sair do ensino médio, então mal conhecia os discos, e se os ouvia era sem muita atenção - não costumo buscar ou saber letras de músicas que ouço, e mesmo ouvindo mil vezes não decoro a letra (inclusive Raul Seixas). Por acaso coloquei Atom heart mother pra tocar num final de tarde, enquanto fazia umas tarefas domésticas. De repente, de distraída passei a prestar atenção na melodia de Summer '68. Tem gente que lembra a primeira vez que ouviu o The dark side of the moon e de como foi o impacto. Comigo foi Summer '68. Tinha certeza de que era especial. E é. Praticamente me lembro do clima e do sol se pondo naquele fim de tarde.

Não sei ainda por qual motivo acabo adorando músicas de despedida de casais espontâneos (ou artista mais groupie/caso de viagem), aconteceu com Free bird no último post, e com Stay, também do Floyd, composta por Waters e interpretada pelo querido Rick (talvez eu saiba, só que para dizer demoraria dias). Mas nem é tanto pela letra (que é de uma delicadeza inexplicável), é pelo Rick, é pelo arranjo, é pelo grave do piano.

Quando criança queria ser três coisas, que eu chamava de PPP (não é Projeto Político-Pedagógico nem - deus me livre - Parceria Público-Privada): Professora, Pianista e Pintora. Consegui mais ou menos dar aulas meio sem querer querendo. Tive horror à licenciatura, mas nunca trabalhei, desde meus 16 anos, num local sem crianças. E ainda bem, as amo e as quero ajudar e compreender. Pintora? Bem, já pintei um quadro que se estragou na chuva e adoro desenho, xilogravura, estudar arte e design, mas nada muito profissional; até o fim da década é possível que me aventure no técnico em comunicação visual. Agora pianista, se Deus quiser, um dia. Preciso.

Enquanto não sei nem toco piano, órgão ou contrabaixo, ouço com a maior fé do mundo minhas canções favoritas, bela e sutilmente doloridas. As do Richard Wright, tecladista do Pink Floyd, são meu xodó. O "disco da vaca", mesmo possivelmente rechaçado pela própria banda, é um de meus favoritos dela. Pela Summer '68 e por ela ter me acompanhado o caminho para a faculdade de 2011 a 2013, pelas ruas de Itaquera de manhã cedo. Por ter comprado o disco original na livraria toda serelepe enquanto meus bebês do Museu Escola escolhiam seus livros favoritos e praticamente corriam por entre as estantes de tamanha felicidade. Pelo final psicodélico da adolescência que tive lá por 2011/12. Pelo cover que fui da banda e fui agradecer o tecladista por tê-la tocado (o Renato Moog é massa demais).

Prometo que começo a escrever mais tecnicamente e com história, fontes, sinopses e indicações, afinal, meu propósito de vida é falar sobre música. Deixa só a inspiração parar de aparecer de madrugada. Enquanto isso, conheçam a LuluBelle e se atentem aos graves do piano, eles são muito importantes.

22.4.17

Simples e livre como um pássaro

os 7 cabeludos topper no encarte de Nuthin fancy, 1975.
Tenho a mania de dizer que esta ou aquela é minha música favorita, tanto que minha last.fm somou 1.383 faixas com o coraçãozinho marcado. Todas elas o são por algum motivo. Aliás: todas as músicas que ouço são ouvidas por algum motivo. Não sei ouvir sem auxílio da memória, de lembranças, e talvez por isso seja tão difícil para mim aceitar lançamentos, e tão fácil amar hoje o que odiava em 1996.

Esse post está saindo antes do que um que deixei em rascunho semana passada, mas imagino que será mais curto e simples, então bora lá.

Em algum momento na minha vida me apaixonei por duas músicas do Lynyrd Skynyrd, ambas do disco que nos ajuda a dizer o nome da banda: Pronounced Leh-Nerd Skin-Nerd (1975). Mas assim: me apaixonei mesmo. Porque, assim como as músicas do próximo post, ou talvez mais, elas me colocam nos eixos daquilo que decidi que sou, fui e vou.
'Cause I'm as free as a bird now
And this bird you cannot change

Free Bird
Aquele tipo de melodia e letra que nos faz observar o horizonte com a vista embaçada lembrando momentos aleatórios da vida, sobretudo da infância, que parecia causar emoções mais puras e intensas. Me lembro de passear com meus pais e, na volta, observar a cidade à noite e sentir um profundo medo da imensidão da vida e acabar caindo no sono. Lembro das promessas da adolescência de nunca, jamais deixar os "adultos" provarem estar certos sobre todas as vezes que me diziam "isso passa", "eu também pensava assim", "as coisas não acontecem desse jeito", "é só uma fase" e n desmotivações e conselhos que eu ouvia engolindo um ódio descomunal que sinto até hoje. Porque, veja bem, sou muito rancorosa (ou, melhor dizendo, minha memória é boa até demais para situações desconfortáveis que lembro limpidamente de angústias desde 1995) e pior (ou melhor): quando me dizem que não posso algo, dou um jeito de poder. Porque não acredito no impossível e não admito que me digam que vida devo levar.

Versão ao vivo com a formação original da banda 3 meses antes do acidente
[observem esse solo de guitarra pelo amor de deus]

Escrevendo aqui me dei conta de certas coisas que me seriam impensáveis na adolescência, que são questões meritocráticas, sociais, políticas, econômicas, e tudo aquilo que discutimos seriamente (ou não) todos os dias. Mas não é bem por aí que gostaria que vissem o que essas músicas me trazem. É bom analisar sob todas as formas, mas a de hoje não é essa. É questão mesmo de quando você se deixa levar pelos outros e se cala para o conforto da família, dos amigos, dos colegas de trabalho, do que é "normal"; de se prender a pessoas e situações pelo que os outros vão achar. Nos calamos em vários momentos da vida, mas há diferença entre se calar apenas por calar, e se calar para fazer suas coisas do seu jeito sem alardes e obter êxito caminhando por atalhos no que for possível, provando assim que aquilo era realizável, etc. É sobre princípios, ideais, e essas coisas.
Oh, be something you love and understand
Simple man
Até porque, sempre tento me lembrar de que a vida é uma só, e se tem uma pessoa que nos acompanha nela 100% do tempo, até a morte, somos nós mesmos. Viver o que o outro espera não faz sentido, nem é saudável. E para eu me dar conta de que ainda sou eu, e poder reavaliar o que fiz e farei, são essas músicas que ouço. São momentos de reflexão e, até o momento, satisfação. Essas duas músicas são como alguém me perguntando se está tudo bem, e eu respondendo com a sinceridade que não tenho para quando sou perguntada: é, está sim. Foi assim que não desisti daquilo que acredito, e em vez de deixar isso pra lá, com tantos péssimos conselhos que existem por aí, eu simplesmente busco maneiras e argumentos para me provar. Para mostrar que sou possível, que sou assim e que quero as minhas coisas assim. Podia melhorar, claro. Mas aí a questão já será mais política e para outro post.


versão de estúdio, 1973

13.3.17

Sobre saber perguntar


Segue conversa na fila do almoço com uma garotinha de 7 anos sobre minha camiseta do Mothership do Led Zeppelin:
- Posso ver sua camiseta? É bonita.
- É duma banda, se chama Led Zeppelin.
- Você participa dessa banda?
- Não, acabou faz muito tempo.
- Você participOU dessa banda?
- Não, só sou fã mesmo.
...
- Sua calça é antiga?
- Por que?
- Porque é muito difícil encontrar calças com bolso assim do lado na perna.
Criança tem melhores perguntas que adultos. Vi vantagem na área de pesquisa pra essa garota.

12.3.17

Dramas, romance e giallo no último carnaval

Assisti a vários filmes no feriado. Escolhi os títulos despropositadamente: um foi indicação de um site, outro fazia parte dos meus planos porque era o último que faltava para eu ver com trilha sonora do Pink Floyd; outro, ainda, era a última história das três da Jane Austen que li; e o último, simplesmente porque gosto do diretor. Mas eles têm algo em comum, e vou listá-los, indicando a vocês. Gostei de todos, então não esperem notas.

Por ordem de visualização:

2007 - Persuasion (Persuasão)

Por obra do destino, o capitão Frederick Wentworth (Rupert Penry-Jones) retorna à vida de Anne oito anos depois que a família dela a aconselhou a não aceitar o pedido de casamento dele. Ocorre que Wentworth está rico e rodeado de belas mulheres. Anne Elliot (Sally Hawkins) tem que frequentar os mesmos espaços que Frederick, amando-o em segredo por todo esse tempo, e ainda tem de lidar com as dificuldades financeiras de sua família.
Sinopse adaptada do filmow.

Meu primeiro contato com Jane Austen foi com este livro, que contém três histórias. Assisti na mesma ordem em que li. Vi spoilers no youtube e achei que seria terrível - era um vídeo feito por fã com cenas em câmera lenta e trilha sonora ruim como o Keny G, ou a emotional titanic flute -, mas não foi tão ruim assim. Razão e Sensibilidade me encantou mais, e Orgulho e Preconceito é lindo, sobretudo pelo Mr. Darcy (nem vou começar a falar dele); mas Persuasão não chega a ser um filme dispensável. Existe a versão de 1995, com um final melhor, mas não gostei muito da atriz.

1969 - More

Um jovem estudante viaja da Alemanha à Paris, quando aparece em seu caminho uma expatriada norte-americana usuária de heróina. Uma paixão avassaladora e sórdida contamina os dois, e juntos partem para a ensolarada ilha de Ibiza. Alucinações, drogas, amor livre e meditações fazem parte do dia a dia do casal. A trilha sonora foi composta integralmente pelos Pink Floyd e constitui outro ponto alto do filme. 
Sinopse do filmow.


Ja assisti Zabriskie Point de Michelangelo Antonioni e La Vallée, de Barbet Schroeder, que contém musicas do Pink Floyd - Careful with that axe, Eugene, e o disco Obscured by clouds, respectivamente. Estava ouvindo o More por conta de Green is the colour e lembrei do filme, também do Barbet, então assisti. Já vi fã falar mal desses filmes, mas eu gosto, e não por ser fã. Há neste situações que me irritam, mas é o tipo de filme que me conecta a outros espaços.

1972 - La prima notte di quiete (A primeira noite de tranquilidade)

Rimini, início dos anos 70. Daniele Dominici é um angustiado professor de literatura que se envolve afetivamente com uma de suas alunas. Será que esse amor irá preencher o vazio existencial de sua vida? Valerio Zurlini é conhecido, com razão, como o "poeta da melancolia". Este filme inesquecível é um dos seus trabalhos mais melancólicos.
Sinopse do filmow.

Aqui finalmente conheci Alain Delon e prrrrrllllll. Esse foi indicação de filmes sobre vazio existencial.  É uma história que, vista de maneira simples,  talvez pelo tempo tenha se tornado banal, como Janela Indiscreta, por exemplo. Em suas décadas devem ter sido impactantes. Como respeito muito o passado, isso não é problema. Mas tem bons diálogos e citações, questões. Se você acha que o que vem a seguir é spoiler, considere como aviso: esse filme tem tanto cigarro que deve desbancar uma película qualquer de Cheech & Chong (nesse caso é só tabaco). Não que eu me importe, realmente não ligo.

1971 - 4 mosche di velluto grigio (Quatro moscas sobre veludo cinza)

O músico Roberto Tobias está sendo seguido há dias por um homem que não conhece. Ao confrontá-lo num teatro abandonado, acaba matando acidentalmente o desconhecido, e no mesmo momento uma figura mascarada fotografa o crime. A partir de então, Tobias começa a ser perseguido implacavelmente por um vilão que não pretende matá-lo, mas enlouquecê-lo aos poucos com a lembrança da culpa do ato que cometeu. Quando novas vítimas passam a aparecer, as quatro moscas sobre veludo cinza gravadas na retina de uma garota assassinada tornam-se a única pista para desvendar o mistério. 
Sinopse no filmow.

É o terceiro filme da trilogia dos animais, de Dario Argento, atualmente meu diretor favorito. Antes há O pássaro das plumas de cristal e O gato de nove caudas, que vi também esses dias; fiquei muito contente de nele estar o Bud Spencer. Ele mais o Terence Hill participaram da minha infância vendo filmes do faroeste com papai.

Enfim, indico esses quatro filmes com histórias e gêneros distintos (romance, drama, giallo) porque foram sincronísticos para mim. Três deles têm cenas em locais litorâneos parecidos, dois deles a mesma atriz. E não fazia ideia disso. Vou mostrar em imagens:

Escadas, vento e maresia na Inglaterra, Espanha e Itália
Mimsy Farmer

15.1.17

Journey to the centre of the earth

By horse, by rail, by land, by sea, our journey starts...
Nota: Aconselho que já ouçam o disco enquanto leem (está incorporado parágrafos abaixo), porque em algum momento desse texto conto spoilers, e gostaria que sentissem a surpresa pura que senti, como se não houvesse internet nem ninguém me indicando. Espero que sintam pelo menos um pouco do que senti, pois já será muito.

Domingo (8 do corrente) estava de bobeira vendo coisas guardadas no quartinho aqui de casa e fui mexer nos vinis, buscando encontrar algo interessante que ainda não tinha visto desde que os ganhamos. Achei uma capa amarela que indicava ser a trilha sonora de um filme e tinha alguns clássicos do rock. Abri o disco por curiosidade e percebi que o conteúdo nada tinha a ver com a capa: li Rick Wakeman - journey to the centre of the earth.

Rick Wakeman em The Battle, uma das partes favoritas

Para quem não sabe, Rick Wakeman esteve e saiu da banda de rock progressivo Yes como tecladista várias vezes, e é um músico erudito de qualidade indizível. Quando comecei a ouvir Yes, foi na época que comecei a ler George Orwell. Em 1984 fizeram um filme de Nineteen Eighty-Four com o John Hurt como Winston Smith, e eu, por ter gostado do filme, quando vi que Rick Wakeman fez sua trilha sonora, baixei. Mas ficou por aí, e esqueci da discografia dele.

Acontece que comecei 2017 decidida a ouvir mais rock progressivo, ainda mais porque vi o Lineu sentindo a pulsação do baixo de Roundabout. E ouvir Yes depois de tanto tempo me fez lembrar de que passei a ouvir a banda a partir do filme Buffalo '66, que tem uma das cenas finais com música do mesmo disco, Heart of the sunrise. Falei desse filme na última postagem. Pois bem: era um terceiro sinal de que eu estava no caminho certo.

Desci as escadas e botei o disco na vitrola, rezando para não ter arranhões, porque casa de ferreiro, espeto de pau: trabalho em museu, mas minha casa é uma bagunça, e o disco esteve por anos mal armazenado. O disco começa com aplausos. Depois uma voz suave de Gary Pickford-Hopkins, acompanhado de Ashley Holt, que acabo de descobrir ser integrante de uma banda que desconheço, Warhorse.


Vou deixar o disco aqui pra vocês, é curto demais, não dá metade do caminho para meu trabalho. Cada lado do disco são duas músicas: The Journey, Recollection, The Battle e The Forest. Journey to the centre of the earth é uma história daquele que inspirou Santos Dumont para concretizar seu sonho de voar: Jules Verne. Escrita em 1864, tem como narrador nesse fabuloso disco, ninguém menos que David Hemmings, o homem com uma voz tão deliciosa quanto a de Stephen Fry, o homem que foi papel principal no já falado Profondo Rosso, um ano depois. Aquele filme de terror favorito com trilha sonora de Goblin.

David Hemmings em Profondo Rosso (1975)

Como diria Fausto (Silva), quem sabe faz ao vivo! E foi isso mesmo que Rick e seus talentosos camaradas fizeram: com orçamento baixo, só conseguiram apoio da gravadora gravando o disco num concerto pago ao vivo com a Orquestra Sinfônica de Londres no Royal Festival Hall, em 18 de janeiro de 1974.

Descobri que a chefia lá no museu não só tem esse vinil, como contava para a filha, quando pequena, a história de Verne mostrando o encarte do CD, que o marido também tinha. Olha, vou ser sincera com vocês: já baixei esse livro em 3 idiomas diferentes (mal falo inglês, quero me meter com o francês, assim, na marra). Tenho, além do vinil, o disco no meu celular e de domingo pra cá ouvi pelo menos 2 vezes por dia. Já dancei com a minha gata, minha mãe já dançou, já recitei e cantei (nunca canto, sabe). Já dancei no ponto de ônibus. Quando vi que acabava também em aplausos, quase aplaudi e chorei junto.

Agora esse parágrafo pode conter algum spoiler, e vai em especial para a Mia, mesmo que ela não se interesse pelo disco:
  • Em The Forest há um trecho de In the Hall of the Mountain King, de Peer Gynt, do Edvard Grieg, baseada na obra de Ibsen. (Também posso ou não ter começado a ouvir as 2 suites pelo menos 2 vezes ao dia);
  • No ano seguinte, 1975, teve o filme (que ainda não vi) Lisztomania, com trilha sonora e participação dele mesmo (Rick);
  • Ele teve a magnânima ideia de fazer discos progressivos (e que discografia!) contando histórias a partir do momento em que seu pai o levou para ver Pedro e o Lobo, de Prokofiev.

Liszt. E Prokofiev. E Orwell (1984). E Grieg. E Verne.

Não sei vocês, mas entrei numa jornada que não tem volta.

Jules Verne: Voyage au centre de la terre (francês) (inglês) - ebook grátis na Amazon.
Julio Verne: Viagem ao centro da terra (português, adaptado).
Mais de Jules Verne grátis.
Rick Wakeman: Journey to de centre of the earth - live performance with the Philharmonic Orchestra in 1975.
© um velho mundo
Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo